Mostrar mensagens com a etiqueta O Mundo à Minha Procura. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta O Mundo à Minha Procura. Mostrar todas as mensagens

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Trecho de "O Mundo à Minha Procura" - Ruben A

"Pouco depois desembocámos no Ouro. Aí, junto ao rio, nem vivalma. O temporal expulsara as pessoas, e os barcos arrimados, na margem pareciam os queixais tirados da boca do Deus Neptuno. Estavam petrificados, a monte, e em dias de sol, durante a forte invernia, ainda serviam às crianças para esconderijo e aos velhos lobos-do-mar como abrigo para remendar as redes. O Douro não poupava as margens, s...ubia, trazia manancial da Régua, das terras altas, uma barrela de água que do lado de lá parecia dar à Afurada um ar de esconderijo de pescadores lacustres.
O céu fúnebre, de cinzentos a querer luto pesado - o barro podre e turvo da cheia, o verde escuro das árvores de folha perene, o som guinhado de carros eléctricos arrastando carreiros de água no seu vapor de precaução, e a ânsia de chegar para ver os que ainda lá estavam - aumentava a passada de Sezé. Ele não falava, pensava com os mortos. Seria possível que não houvesse salvação? Estariam eles mesmo a morrer à flor dos olhos?"

O Mundo à Minha Procura - Ruben A