quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Sol e Chuva



o sol brilha
mais hoje
mais longe
porque ontem
choveu aqui
mais perto
amanhã
vai chover
onde
não importa
ainda
se tivesses
uma planta
ou um rio
como ontem
pudesses
apenas viver
de luz
e da água
de antes
atónito
de reflexos
no meio
do canavial
sofrer
de sede
e de frio
aquecer-te
e saciar-te
à tua beira
um amanhã
em ti
não existiu
fim
nem distância
entre eles
dois
porque
ela era o sol
ele a chuva
nesta tarde
ela era a planta
e ele o rio
o mundo
em ponto
pequeno
era um sonho
nele dançava
contigo
à chuva
no meio do rio
já tímido
me escondia
a espreitar-te
no canavial
dos versos
onde não havia
tempo
Lisboa, 30 de Dezembro de 2015
Carlos Vieira


terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Bicicletologia


as bicicletas
rodam elegantes
pelas ciclovias
e percursos
planeados
com seus reflexos
de guiadores
cromados
os ciclistas
causam inveja
vendem saúde
e tem o peso certo
pele de licra
fosforescente
capacete
para os incidentes
e visão de insecto
andam na vida
sem tirarem
o cu do selim
apenas são vencidos
por pequeno furo
ou a corrente
fora da cremalheira
do futuro
Lisboa, 29 de Dezembro de 2015
Carlos Vieira


Pintura de Adam Neate

Gosto...

gosto
destes bairros antigos
de prédios baixos
sem elevador
com árvores de permeio
e os pássaros
para fugir e entrar 

em casa
Lisboa, 29 de Dezembro de 2015
Carlos Vieira

Picou-se...

picou-se
ao roubar uma rosa
do jardim
um crime de sangue
Lisboa, 29 de Dezembro de 2015
Carlos Vieira

De um trago...

de um trago
bebe o seu veneno
num abrir e fechar de olhos
morre por ela
Lisboa, 29 de Dezembro de 2016
Carlos Vieira

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

"Por vezes, são exatamente aqueles de quem ninguém espera nada, que fazem aquilo que ninguém espera."
No filme "O Jogo da Imitação" de Morten Tyldum

Na morte de uma florista desconhecida


Indiferente
ao insólito
à ternura 
ao chamamento
ao crepúsculo
absorta
à vertiginosa
descida
da temperatura
afinal
está morta
no banco
do jardim
amortalhada
de folhas
de notícias
dos segredos
dos outros
os pardais
parecem
chamar
por ela
deitada
sobre si
mesma
dois dedos
de silêncio
caídos
há dois dias
seguidos
de tantos
anos
dobrados
de pétalas
de espinhos
e de perfumes
deserta
é agora
a esquina
da florista
amável
à vontade
no comércio
da solidão
sucumbiu
de avc.
Lisboa, 27 de Dezembro de 2015
Carlos Vieira

18 instantâneos urbanos


I
oiço a mota
em fim de vida
em escape livre
II
no gume das esquinas
nos círculo da penumbra
olhares acutilantes
III
a incontroversa demência
dos semáforos
face aos olhos azuis
e os lábios vermelhos
da transeunte
IV
no primeiro andar
com o focinho entre as grades
um pequeno cão ladra
aparentemente sem sentido
V
nas esplanadas ao meio da tarde
as folhas pousadas na mesa
muda-se de estação
vira-se a página
VI
uma buzina insiste
perde a razão
na sua estridência
não se ouvem as nuvens
VII
uma fila
na paragem do autocarro
na vida contemporânea
uns sentados outros de pé
VIII
não há muita gente nesta praça
que venha para dar milho aos pombos
quase sempre os mais velhos
e os mais pobres
IX
no jardim público
a relva está bem tratada
não lhe chegaram os cortes
nem as crianças
X
nas voltas da nossa vida
o tráfego é caótico
uns a sair e outros a entrar
tanta via de sentido único
XI
no meio da praça
a estátua de mármore
olha-nos do seu pedestal
nós somos as estátuas
de carne no meio da rua
XII
faz este vento frio
entra para o túnel do metro
em busca de calor humano
sai com memórias
de óleo queimado
XIII
acende
o guarda chuva
e "apagua-se" no seu mundo
XIV
olha para os arranha-céus
para os reclames de néon
e para as montras em saldos
tudo coisas de deuses humanos
que cintilam mais
para homens de bolsos vazios
XV
a lua brilha
nos carris dos elétricos
mais tarde deles vão saltar faúlhas
e ficará o eco estridente dos freios
a propósito do nada e de tudo
uma festa em movimento
XVI
chove no cimo da calçada
elegante é a senhora e o macaco
em contraluz e o cinzento do céu
apenas um senão
ninguém pára para ajudar
na mudança do pneu
XVII
nas lojas de comércio tradicional
apenas param as moscas
há produtos fora de prazo
demasiado maduras as frutas
e os planos dos resistentes
XVIII
um guindaste
amarelo enferrujado
agoniza
na obra inacabada
uma mulher corre
esbaforida
a sua vida tem sempre
tanto por fazer
Lisboa, 27 de Dezembro de 2015
Carlos Vieira

Poema ao amigo virtual


Este poema
é para ti
meu amigo virtual
ao virar
da esquina cibernética
ao tocar da tecla
onde algures
aguardas que surja
no firmamento do écran
de 13,3 polegadas
uma estrela
de píxeis refeita
por vezes
tua única companhia
e noutras de tanta descoberta
nessa solidão recreativa
avanças pela rede
sem rede
vais flutuando
no espaço sideral
por cima da espuma dos dias
na mancha láctea
um post é formigueiro de letras
dele fazes um grito lancinante
e do grito germina uma canção
esperas pela resposta
de quem não sabes
que não chega
e percebes
que existe
muito mais gente
com a tua pergunta
e apenas alguns
encontram a resposta
na cacofonia dos navegadores
gostas de estar online
viciaste-te
no teu desaparecimento
do mundo
apagas-te
reinicias-te em cada dia
a cada momento
no retângulo da tua atenção
atravessas continentes
rumo à etérea melodia
da tua inexistência
devoras migalhas
de ternura
nas breves palavras
tocas a ferida do silêncio
na pele do ecran táctil
deixaste de ser tímido
ou talvez não
falas agora
por detrás de um muro
que agora cerca
a tua vida digital
estabeleces pontes
e desconheces
o murmúrio da água
para onde corre esse rio
de sentimentos
sem foz
apenas sonhas
efémeros downloads
de um amor impossível
tu um peixe fora de água
de software incompatível
aprendes a nadar
no vórtice da corrente social
usando a tábua de salvação
de um reconhecido
anonimato
meu amigo virtual
eis-nos aqui de novo
face a face
de permeio
apenas o biombo
doméstico
nos desencontros da vida
e as nuas silhuetas
das memórias
a processarem outputs
de solidão real.
Lisboa, 24 de Dezembro de 2015
Carlos Vieira

O déspota

O déspota
que do sol
fez a espada
ficou cego
pela usura
da luz
ignora
estar preso
às trevas
nas masmorras
onde nasce
o sonho
mais audaz
e se ergue
delicada
a flor
da madrugada
inexpugnável.
Lisboa, 22 de Dezembro de 2015
Carlos Vieira

Poema de um poeta e de um cavalo



um cavalo
dá um coice
em vão

um poeta
dá um coice
em verso

um coice
dá um verso
em falso

o cavalo
esse poeta
perverso

na noite
das estrelas
de um coice

na noite
a cavalo
de um verso

poeta
de montar
a noite

a monte
o poeta
e um cavalo

foi-se
de um coice
até à lua

luas
dos cavalos
e dos poetas

por fim assinam
de coice
ou de cruz

Lisboa, 20 de Dezembro de 2015
Carlos Vieira








Pintura de Maqbool Fida Hussain

Pintura rupestre


Na caverna
um animal acossado
o rumor de um silêncio húmido
que o sílex de um olhar cauterizou
a palavra é um archote naquela boca
na margem deste rio subterrâneo
vencendo o torso do vazio
fruto maduro e afável
veado de sofreguidão
vencido.
Lisboa, 20 de Dezembro de 2015
Carlos Vieira

Coleção



Reuni
para memória futura
meia dúzia de palavras

a palavra
jangada à deriva
no imenso e azul oceano

um pássaro exausto
sem sentido
no céu infinito

uma pegada breve
arrastada
nas dunas do deserto

o uivo selvagem
coração ferido
em trevas da floresta

a silhueta acossada
e a lâmina desembainhada
na esquina da noite

a chave
que liberta os corpos
da clausura do silêncio

aquele estâmpido
que algures
põe termo à solidão

uma língua de fogo
a devorar o mármore as igrejas
ávido de chuva

um insecto
que sobrevoa
a dança das searas

a ânfora submarina
que a suave memória dos lábios
ainda habita

o sino de bronze
zurzindo em vida
o eco da morte nas aldeias

a concha
caída numa praia sem regresso
e sem sossego

o botão
arrancado na urgência e na raiva
de um amor desesperado

a flor arrancada
e caída das mãos
do desencontro definitivo

a lâmpada
campânula de luz bruxuleante
que te cerca de insónia a ti e ao livro

o rosto cabisbaixo
em dias de arame farpado
e de angústia

por fim
um pião e um cordel
esquecidos no tempo do asfalto

a minha coleção
a aguardar a descoberta
de um jogo e de um sonho

espero agora
que a força centrífuga
da ilusão volte a girar.

Lisboa, 20 de Dezembro de 2015
Carlos Vieira



"Le dejeuner sur l'herbe, 77", de Ana Vieira

domingo, 27 de dezembro de 2015

Poema para ti neste fim de Outono


Este fim de Outono
traz-me a filigrana
tecida pelos teus dedos
a renda das cortinas
de reflexos etéreos
onde o teu rosto
se emboscava
na vigília da solidão
no desencontro das esperas
um córrego de luz descia
do sopé do teu olhar
apagando as linhas
onde a beleza da matemática
foi possível
tu a multiplicar por mim
ainda que a respiração ofegante
do prazer
confluísse na inevitável
solução
da lágrimas e do suor
neste fim de Outono
ao despedir-me
do abismo das tuas ancas
fico cego
pela revoada dos teus cabelos
nos meus ombros
desencantam-me
a memórias de pássaros
que partiram
e dos beijos
que me recusaste
e que perdi
quando estavas
de costas
frente a frente
com o insondável
das tuas ausências
ou será que o amor
também hiberna.
Lisboa, 12 de Dezembro de 2015
Carlos Vieira

A cama onde me deito


Enquanto me dava à indústrias dos pensamentos
e à vacuidade dos despachos
desprendiam-se das amoreiras à janela do gabinete
as folhas vermelhas e amarelas
quanto de subtileza na morte e harmonia no bailado
a evitar a prata dos troncos
se transformam por fim na melancolia do tapete precário
até que uma brisa se levante
e o cão rafeiro se deite na cama acabada de fazer
eu continuo às voltas
no virar de página e desperdício da tinta e dos papéis
no labirinto da burocracia
cada um faz a cama onde se deita
não sendo esse contudo o caso dos cães.
Lisboa, 12 de Dezembro de 2015
Carlos Vieira

Noite sem estrelas I


A noite regressou
inexorável
devorou
todos os pássaros
ou roubou-lhe
as árvores
que a poderiam
“cantominar"
de ninhos
de resistência.
Lisboa, 8 de Dezembro de 2015
Carlos Vieira

Em pontas


I
nos cornos
do touro bravo
hasteada
a camisa branca
manchada de sangue
e de humanidade

II
touro
de azeviche
impaciente
barragem de fogo
resfolgando
plenitude

III
o manto de nevoeiro
estende-se pela campina
subitamente
ouve-se a respiração
do touro
que transforma em farrapos
a unanimidade

IV
um cavalo baio
ergue a garupa
sobre o horizonte
que o touro negro
fixa imperturbável
ângulos de visão

V
o quarto crescente
as hastes de um touro
fragmentos de estrelas
e de sonhos colhidos

Lisboa, 8 de Dezembro de 2015
Carlos Vieira



Versos a partir de um beco sem saída


No beco da sua vida
há o rapaz
e uma rapariga
oscilam
entre não querer
voltar para trás
e não haver saída
entre a entrega ao fugaz
à voracidade do beijo
ou à iminência de briga
vítimas acidentais
da dança macabra
do sem tempo
entre empedernidos
pela lâmina
da eternidade
e adormecidos
pelo solfejo do vento
que nada muda
interlúdio bélico
e guerra fria
apenas interrompidos
por sarcasmo cínico
na penumbra
da ausência
Lisboa, 8 de Dezembro de 2015
Carlos Vieira

Vários tons de cinzento


Enrolado à janela
neste pequeno quarto de hotel
com vista para a catedral
de Eindhoven
deixo os deuses
e demónios descansados
neste primeiro dia de Dezembro
observo a chuva miudinha cinzenta
e o céu cinzento
arquitectura moderna e cinzenta
com muito metal e vidro
os homens apressados e cinzentos
eu sou um peixe de todas as cores
que ninguém nota
vantagens dos cinzentos países do norte
passarmos ainda mais despercebidos
exulto neste aquário
sem mágoas para afogar
sem golpe de asa
vivendo epifenómenos
enganando a burocracia cinzenta
não há nada
como pequenas
estadias no estrangeiro
para nos distanciarmos
do cinzento
de nós próprios
e nos tornarmos
camaleões
dos gestos subtis
cinzentos.
Eindhoven, 1 de Dezembro de 2015
Carlos Vieira

Faço um poema...

faço um poema
de serenidade bovina
interrompida
pelo eco do chocalho
em equilíbrio na ravina
Lisboa, 1 de Dezembro de 2015
Carlos Vieira

Mulher com três caniches debaixo das palmeiras


Saio da garagem e no halo de luz que o portão oferece, na sua lenta ascensão, no jardim de fronte erguia-se uma mulher de meia-idade, de pé, nos seus cerca de 1,80 de altura de glamour, elegância e óculos escuros.
Não posso jurar que era loura ou se foram os raios de sol que me encadearam. Arrastavam-na pela trela, três caniches que iam à sua frente como se fossem batedores. Percebi o olhar insinuante, nele um fulgir de sensualidade, outras vezes, um prelúdio de sono, o que fazia sentido pois era meio-dia.
Pergunto-me como pude ver tudo isto num relance e com a mão no volante? Passei por ela, o mais devagar que me era permitido por lei, esfreguei os olhos ainda incrédulo. A centenas de metros dali voltei para trás, queria ver melhor se era um sonho ou visão, tocar-lhe não ousaria.
Cheguei de novo ao local da cena e afinal já tinha desaparecido, escapuliu-se, nem sombra, só havia deserta a pequena esplanada e impávidos, os bancos verdes do jardim.
A explicação mais consistente é que era uma mulher que só tinha existido como tantas outras, nas sessões de cinema da meia-noite do Quarteto, no celuloide dos primeiros filmes americanos, dos anos cinquenta, agora recuperados e pintados a cores pastel e no entanto, mudos como eu tinha ficado.
Tratou-se pois e isso é que fica para a posterioridade, de uma aparição cinematográfica debaixo das palmeiras para nos salvar da rotina, algo de tropical, será que esta também provoca alucinações, seria um milagre, pura tentação, pareceu-me excessivamente teatral mas deixa-me ainda, esta agradável ilusão de poder ter uma diva por vizinha, criada a partir do nada e da câmara escura da minha garagem.
Lisboa, 30 de novembro de 2015
Carlos Vieira

Este sopro...

este sopro
frio por dentro
das flautas dos ossos
descarnados de sonhos
Lisboa, 23 de Novembro de 2015
Carlos Vieira

Lisboa limpa...

Lisboa limpa
de pedra pomes iluminada
banhada pelo marulhar
da tristeza sóbria
do rio
Lisboa, 23 de Novembro de 2015
Carlos Vieira

Poema dos homens que não partem e dos que nunca regressam


Neste pequeno refúgio na margem do rio
tiro os sapatos e deixo-os ir na corrente
tenho sonhos de homens descalços
com os pés na terra
e daqueles que sonham
andar sobre as águas
de tantos que morrem calçados
dos que não tem terra nem sapatos
que nunca verão o mar
vidas de naufrágio afogados na dor
sem visto nem passaporte
aqui estou eu marinheiro de água doce
na margem do rio onde os homens ao partir
apenas morrem um pouco.
Lisboa, 22 de Novembro de 2015
Carlos Vieira

Instantâneos de Lisboa



I

Da torre 
já não parte ninguém
nem ninguém de saudade morre

nem nas masmorras
sem esperança os homens esperam de pé
a mudança da maré

matriarca resignada às mágoas entre ameias
a obervar as pontes no cruzar das águas
desce por vezes ao Tejo a olear os pés

II
os navios cruzeiros
passam com seu vagares sobranceiros
em avanço paquidérmico

tem mil olhares hexagonais de coleópteros
a devorarem paisagens e a enjoarem milhas
e panorâmicas imagens

III
as gaivotas passeiam
não se comprometem muito empertigadas
muito senhoras de si e de bico calado

as gaivotas fogem das tempestades
deambulam debaixo dos pinheiros mansos
vacas raquitícas a tosar a relva

IV
nós os turistas somos uns fingidores
equilibramos a balança de transacções
convencidos de nós mesmos

aos turistas basta-lhe
um fim de semana para obterem
um salvo conduto para a eternidade

os turistas resistentes da liberdade de circulação
disparam as suas máquinas reflex
de 24 megapíxeis

V

a todo o comprimento
das vidas que vagueiam nas margens temos o rio
e as bicicletas em contra-corrente

o rio e os seus mistérios submersos
o que não conta e tudo aquilo
que mais cedo ou mais tarde virá à superfície

o rio com raiz
na libertação das entranhas da terra
e de sonhos desfeitos no refluxo da foz

também o rio esconde no seu leito
algo de inconfessável e no remoinho
uma prosaica falta de ar

depois por último
“but not the least" temos este rio vivo
no dia da morte do Rio Doce

Lisboa, 5 de Novembro de 2015
Carlos Vieira



Temperamento


Sem te dares conta
espreito o teu gesto
impressionantemente
esbelto e complexo
a pairar sobre a simplicidade
dos legumes
a tua alegria tranquila
a afagar os vegetais
que seleciona
a brincar com as porções
de tempero
e no final
sempre me surpreendes
no inesperado voo
em que me estendes
a pequena colher de pau
acompanhada
pela fórmula mágica.
“- Vê, se está bem de sal!”
Lisboa, 18 de novembro de 2015
Carlos Vieira

O Bule

O bule
de asa altivo
na sua pose aristocrática
entre chávenas e scones
quem diria que ferve 
em pouca água
Lisboa, 18 de novembro de 2015
Carlos Vieira

Fita-me...

fita-me
o grande olho
da máquina de lavar roupa
depois fica embaciado
raso de água e regurgita
eu, eu ando às voltas
pela noite dentro
em busca dos pensamentos
mais enxutos
Lisboa, 18 de novembro de 2015
Carlos Vieira

era meia noite em ponto

era meia noite em ponto
gelado
um copo de leite magro
foi derramado
pelo tampo de mármore
sobre o tempo
Lisboa, 18 de novembro de 2015
Carlos Vieira